terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Que tal férias das férias?

Aqui no Brasil, as coisas parecem acontecer lentamente no início do ano. Em 2011, com o Carnaval chegando mais tarde, em março, a perspectiva é de lentidão prolongada até lá. É notável essa situação em vários setores da sociedade. Existe recesso no judiciário, no legislativo, férias coletivas nas empresas, férias escolares, viagens mais frequentes pra aproveitar os finais de semana quentes, desaceleração do comércio, acompanhada da dispensa de funcionários temporários e queda do consumo em comparação com o mês de dezembro.

O que acontece nos primeiros meses é uma ressaca do ritmo alucinante que domina a maioria no final do ano anterior. Prazos no trabalho, provas finais, confraternizações. Todos fazendo a mesma coisa ao mesmo tempo, gerando estresse, filas, e atrasos.

Nós, brasileiros, temos a compulsão (ou o comodismo) de seguir a tendência, empurrando com a barriga até que o ano comece de verdade. Mas o que ocorre de fato é que a vida continua como sempre, com milhões de pessoas trabalhando, estudando, deslocando-se e alimentando-se. São mudanças sutis na vida de alguns e não da maioria, que causam a impressão de que há menos a ser feito. E muitas vezes nos entregamos a essa impressão, talvez pelo desejo de que fosse a nossa realidade.

Aqui em São Paulo, por exemplo, a chuva tem sido uma constante nessas primeiras semanas causando alagamentos, congestionamentos, deslizamentos de terra, interdições e morte. Presas no trânsito, as pessoas ficam preocupadas com o que deveriam estar fazendo ao chegar, seja em casa ou no trabalho. Milhares são afetadas pelas perdas de entes queridos e de seus bens. A imprensa já começa o ritual de condenações e cobrança de soluções. Se o ano ainda não tivesse começado, isso tudo não seria um problema.

Não, o ano não começa só depois do Carnaval. Sequer existe uma pausa nas festas do final de ano. O tempo não para, e a vida também não. Quanto antes admitirmos essa realidade, mais cedo poderemos aproveitar melhor os primeiros dias do ano para o trabalho, reduzindo o estresse de viver correndo atrás de prejuízos, e distribuir o lazer pelos meses restantes, equilibrando melhor o humor. Poderemos aplacar a ansiedade por uma época específica para viagens que sobrecarrega as regiões propícias ao turismo, ao mesmo tempo em que criamos uma economia mais sólida nessas áreas.

Num país da dimensão do nosso, há praticamente clima para todos os gostos o ano inteiro, e parte do motivo de isso não ser aproveitado é a falta de procura, porque nos condicionamos a reservar uma época especial para viajar, e parece que a maioria escolhe o verão, quando poderia aproveitar o calor quase o ano inteiro em muitos estados do norte e nordeste.

Eu já optei pelas férias fora da "alta temporada", dos congestionamentos, das filas, da falta d'água, em 2010 e estou repetindo a dose esse ano. E pretendo variar os destinos e as épocas, já que tenho a opção de dividir as minhas férias em duas partes.

Afinal de contas, já basta o cotidiano ser rotineiro. Porque tentar fazer das férias mais uma mesmice?